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A Curiosa Relação entre Sono, Felicidade e Economia

  • 14/01/2019
  • Carla Furtado

As empresas japonesas andam muito preocupadas com a falta de sono de seus colaboradores. Tanto, que passaram a implantar medidas que favorecem quem coloca a cabeça no travesseiro pelo menos 6 horas por dia. Algumas premiam com pontos, outras oferecem salas para repouso durante o expediente - sem uso de gadgets e wifi, é claro. Seminários de higiene do sono também vêm sendo oferecidos aos empregados de organizações públicas e privadas. O objetivo é modificar imediatamente uma cultura de supervalorização da produtividade em detrimento da saúde.

O fato é que as complicações da falta de sono têm elevado custo para a economia japonesa: são US$ 138 bi/ano, ou 3% do PIB, por conta de 600 mil dias de trabalho perdidas. Há trabalhadores morrendo por excesso de trabalho e privação extrema de repouso, fenômeno chamado "karoshi". Exaustão crônica propicia o surgimento de inúmeras doenças.Não muito longe do Japão, um pequeno reino no Himalaia leva o sono muito a sério.

No Butão, o equilíbrio no Uso do Tempo é um dos 9 Domínios que compõem as condições para o bem-estar. Durante a pesquisa para averiguar o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB), realizada periodicamente, os cidadãos avaliam a distribuição de seu tempo entre as atividades de rotina, a socialização e o repouso. A partir dos resultados, o governo traça políticas públicas para o período de 5 anos.

A verdade é que quem não dorme bem não vive bem. A qualidade do sono interfere na restauração orgânica, na conservação de energia, no equilíbrio hormonal, na função cognitiva, na consolidação da memória e na defesa imunológica. Os riscos para quem negligencia o repouso são inúmeros, incluindo depressão, transtorno de ansiedade, obesidade, diabetes, hipertensão e câncer. A percepção de felicidade também é duramente afetada pela privação do sono. Especialistas recomendam de 7 a 9 horas de sono por noite para as pessoas entre 26 e 64 anos.

Sobre o Brasil, vamos à real: somos o terceiro país onde se dorme menos, antecedidos apenas pelo Japão e por Cingapura (Science Advances, 2016). Outro dado relevante é a prevalência de insônia no País, que alcança a casa dos 15%.  Diferente do Japão, aqui o inimigo número um é o celular, em especial o efeito da luz da tela no ritmo circadiano. Para enfrentamento dessa realidade, recomendamos às organizações que mensurem junto aos seus colaboradores o Uso do Tempo e os demais domínios do FIB. A partir dos resultados, são traçadas políticas específicas e programas de educação. Para gestores que ainda acreditam que sono é assunto pessoal e privado, fica o convite para a reflexão.



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